Construída para a Copa do Mundo de 2014, a Arena da Amazônia custou R$ 757 milhões e consome R$ 1 milhão por mês até hoje
Por
PATRICIA LAGES
A crise em Manaus vai muito além da saúde e não começou
agora. Na verdade, a negligência e o descaso com a população manauara está
presente muito antes da chegada do coronavírus. Uma cidade carente de tudo
acompanhou a construção de um estádio “padrão Fifa”, recebendo uma prestação de
serviços públicos “padrão Congo”.
A crise causada pela Covid-19 foi agravada pela falta de
oxigênio na capital do estado considerado o pulmão do mundo. Enquanto “não há
dinheiro” para suprir a demanda na saúde, são gastos R$ 1 milhão por mês com a
manutenção da Arena da Amazônia que recebe cerca de 20 jogos por ano. Façamos
as contas.
CHICO BATATA/AGECOM/AM
Numa busca rápida pela internet é possível levantar o custo
médio de mil reais por cilindro de oxigênio com carga de 4,5 litros. Com R$ 1
milhão é possível adquirir mais de mil cilindros, uma vez que a compra em
grande quantidade obviamente reduz o preço unitário. Enquanto isso, os 20 jogos
por ano realizados na Arena da Amazônia custam, em média, R$ 600 mil cada. Esse
é o legado que a Copa do Mundo deixou para Manaus e para a “boa” imagem do
Brasil no exterior.
Neste momento em que a falta de estrutura na saúde do
município se escancara é inevitável lembrarmos das falas de Ronaldo Fenômeno e
do ex-presidiário Lula ao afirmarem que “não se faz uma Copa do Mundo
construindo hospitais” e que pensar assim é um “retrocesso”. Mas tem mais uma
fala do “amigo”, codinome de Lula na lista de recebimento de propinas da
Odrebecht:
“Quem for nos ‘estádio brasileiro’ vai morrer de inveja
porque não tem no mundo ‘estádio’ mais bonitos que os nossos”. Mas e agora?
Será que o mundo está com inveja do que está acontecendo em Manaus?
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A crise de saúde que estamos testemunhando é precedida de
uma crise ética, de muita corrupção, de um sem-fim de desmandos e da farra com
o dinheiro dos pagadores de impostos de norte a sul do país. E, em meio ao
caos, sempre surgem aproveitadores para “monetizar” em cima do sofrimento
alheio, afinal, quantas não são as “celebridades” que estão berrando nas redes
sociais que “alguém precisa fazer alguma coisa”? Mas poucos são os que, de fato,
mandaram ajuda real para amenizar o problema, como fizeram o cantor Gustavo
Lima e o comediante Whindersson Nunes.
Enquanto isso, grande parte da imprensa desinforma o
público colocando a culpa do caos exclusivamente no governo federal que, como
todos sabem, está impedido pelo Superior Tribunal Federal (STF) de tomar
medidas em prol da pandemia, o que ficou a cargo 100% de estados e municípios.
Falta imparcialidade para expor as verbas que o estado do
Amazonas recebeu e que estão publicadas no Portal da Transparência para quem
tiver interesse na verdade. Foram R$ 2,36 bilhões destinados pela União apenas
para o município de Manaus, mas que parecem ter evaporado no ar. Um ar onde
falta até oxigênio.
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A secretária de Saúde do Amazonas, Simone Araújo de
Oliveira Papaiz, foi presa em junho de 2020 durante a Operação Sangria,
realizada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal (MPF) por
fraudes e desvios de dinheiro na compra de respiradores, que foi feita em uma
empresa que nem sequer fabrica respiradores, mas sim, importa vinhos.
Não se trata de falta de dinheiro, mas sim, de falta de
respeito com as pessoas e de vergonha na cara, enquanto sobram mentiras,
falsidade, roubo e sujeira de todo tipo. As mãos de muitos políticos e de todos
os envolvidos nesse escândalo não estão apenas cheias de dinheiro, mas também
estão cheias de muito sangue.
Autora
Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças
pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional
e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.
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